domingo, 8 de janeiro de 2017

Joba Tridente: Um Amor Florido

Este conto, Um Amor Florido, que escrevi em 1999, e Palhaçada, de 2000, originaram o curta-metragem Cortejo, em 35mm, que dirigi em parceria com Marcos Stankievicz Saboia, em 2008, aqui em Curitiba-PR, no Brasil. No enredo, a interação de duas histórias que começam e terminam juntas, mas se desenrolam em tempos diferentes. Hora dessas publico Palhaçada, o conto que desconstrói o tempo (não a metragem!) no filme.



U m   A m o r   F l o r i d o
Joba Tridente

Todo dia chegava com o carro (tipo perua/kombi) coberto de flores. Às vezes manhã. Outras à tarde. Raramente à noite. Acreditava ser pra ela. Nunca perguntou de onde. Nunca perguntou por quê. Bastavam-lhe o amor e as flores diariamente trocadas. Braçadas de cravos, margaridas, dálias, camélias, lírios, copos-de-leite, antúrios, rosas misturadas aos ramos de cedrinho. Todo dia, ou tarde ou, raramente, noite. Um amor florido. Um carro de amor fazendo inveja. Uma cama coberta de pétalas. Gozo alucinante no meio delas. Sexo perfumado. Vontade de nunca acabar.

Um dia distraído na cidade vizinha. Na rua um cortejo. Enterro e carpideiras. Na frente um carro coberto de flores e no meio delas um caixão. Um carro parecido com o outro. Nas flores o mesmo perfume misturado. Baixou os olhos e o motorista era o amado. Não sabia agente funerário. Nem sabia ser dali. Um aceno dele. Não respondido. Um sorriso dele. Não correspondido. Uma lágrima dela. Não vista.

Ali, a última vez dos dois.


*
Ilustração: Cartaz de JobaTridente para o filme Cortejo 

Joba Tridente, artesão de palavras e imagens em Verso: 25 Poemas Experimentais (1999); Quase Hai-Kai (1997, 1998 e 2004); em Antologias: Hiperconexões: Realidade Expandida (2015); 101 Poetas Paranaenses (2014); Ipê Amarelo, 26 Haicais; Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu vejo da minha janela (2014); Ebulição da Escrivatura - 13 Poetas Impossíveis (1978); em Prosa: Fragmentos da História Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos Stankienambás (2000); Cidades Minguantes (2001); O Vazio no Olho do Dragão (2001). Contos, poemas e artigos culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo, Revista Planeta, entre outros.

2 comentários:

  1. Gostei do conto. Como se vê o filme, Joba? Abraço.

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    Respostas
    1. ..., olá, Carlos, posso copiar pra você! ..., vou ver se consigo uma cópia melhor com o Marcos. ..., grande abraço. T+

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