domingo, 25 de setembro de 2016

Luiz Guimarães Junior: O Jaguar

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

Luiz Guimarães Junior (1845-1898), de quem já publiquei anteriormente três obras-primas: A Morte da Águia; O Viajante e Idílio, é uma (re)descoberta tardia minha. A cada (re)leitura a sua obra se torna mais  apaixonante. Gosto do seu exotismo, da sua narrativa romântica e de expressividade rara. Em Sonetos e Rimas (1880) encontrei O Jaguar..., pode não se encaixar no propósito desta série que explora a memória afetiva e ou lúdica de autores em língua portuguesa, mas é de uma beleza tão desconcertante, que não pude deixar de fora. Amanhã é a vez do escritor paranaense Emiliano Perneta (1866-1921).



O Jaguar
Luiz Guimarães Junior

Rosna o fulvo jaguar, triste e dormente,
No seio da floresta: – a fera inteira
Dobra à velhice, e a névoa derradeira
Cobre-lhe a fauce lívida e impotente.

O imundo inseto, a mosca impertinente
Zumbe-lhe em torno; – a cobra traiçoeira
Fere-lhe a cauda inerte, e a aventureira
Formiga morde-o calma e indiferente.

Apenas quebra o sono mortuário
Do velho herói o grito, entre as folhagens,
Do cordeiro medroso e solitário;

Ou, através das tropicais aragens,
O tropel afastado, intenso e vário
Dum rebanho de búfalos selvagens.

*
ilustração de Joba Tridente.2016


LUIZ Caetano Pereira GUIMARÃES JÚNIOR (Rio de Janeiro-RJ: 17.02.1845 – Lisboa-Portugal: 20.05.1898): advogado, diplomata, escritor (de verso e prosa), jornalista e teatrólogo brasileiro. Graduado pela Faculdade de Direito do Recife, seguiu a carreira diplomática, servindo em Santiago do Chile, Roma e Lisboa..., onde, ao se aposentar, fixou moradia e desfrutou da prazerosa companhia de Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Fialho Almeida. Guimarães Júnior foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras e colaborador de diversos veículos de comunicação: Jornal do Domingo: Revista Universal (1881-1888); Ribaltas e Gambiarras (1881), A ReformaA RepúblicaO Correio Paulistano; Imprensa Acadêmica de São PauloGazeta de Notícias. Na web há farto material sobre Luiz Guimarães Junior, autor de Poesia: Corimbos (1866); Noturnos (1872); Sonetos e Rimas (1880); Ficção: Filigranas (1872); Contos sem Pretensão (1872); Curvas e Ziguezagues (1872), Caprichos Humorísticos em Prosa (1872). Romance: Lírio Branco (1862); A Família Agulha (1870); Teatro: Uma Cena Contemporânea (1862); As Quedas Fatais; André Vidal; As Joias Indiscretas; Um Pequeno Demônio; O Caminho Mais Curto; Os Amores Que Passam; Valentina; A Alma Do Outro Mundo (1913); Biografias: A. Carlos Gomes; Pedro Américo (1871). Iracema Guimarães Vilela, filha do escritor, em seu livro Luís Guimarães Júnior: Ensaio Biobibliográfico (1934), revela que o autor, pouco antes de morrer, em 1898, queimou diversos manuscritos (peças, crônicas e poemas), incluindo as duas primeiras edições de Sonetos e Rimas (1880 e 1886) suas últimas obras impressas em vida. Saber mais: Academia Brasileira de Letras; artculturalbrasil.

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