segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Emiliano Perneta: Iguassú

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

O escritor paranaense Emiliano Perneta (1866-1921), um dos criadores do simbolismo brasileiro, reverenciado como o Príncipe dos Poetas Paranaenses, teve grande presença na ebulição literária de sua época. O bonito soneto Iguassú (em língua guarani significa “rio grande”) é uma exaltação ao rio da sua infância que, mesmo sofrendo com a poluição de suas águas, alimenta as Cataratas do Iguaçu, consideradas uma das 7 Maravilhas Naturais do Mundo. A memória afetiva de Emiliano ressalta um tempo que dificilmente voltará, quando o rio cristalino, com seus encantos naturais, só incomodava os ribeirinhos na enchente. Amanhã escritor português Francisco Joaquim Bingre (1763-1856) traz o registro de sua mais antiga memória afetiva e lúdica.



I g u a s s ú
Emiliano Perneta
ao Joaquim de Castro

Ó rio que nasceu, onde nasci, ó rio
Calmo da minha infância, ora doce, ora má,
Belo estuário azul, espelhado e sombrio,
Quanto susto me deu, quanto prazer me dá!

Quantas vezes eu só, nessas manhãs d’estio,
Ao vê-lo deslizar, pomposamente, lá,
Pálido não fiquei, tão majestoso vi-o,
Orgulho do Brasil, gloria do Paraná!

Companheiro ideal! Durante toda a viagem,
Foi o espelho fiel a refletir a imagem,
Dos montes e dos céus, discorrendo através

Da floresta, ora assim como um cão veadeiro,
A fugir, a fugir alegre e alvissareiro,
Ora deitado aqui, quase a lamber-me os pés!

*
ilustração de Joba Tridente.2016


Emiliano David Perneta (Pinhais-PR: 03.01.1866 - Curitiba-PR: 19.01.1921), advogado, jornalista e escritor brasileiro, foi um dos criadores do simbolismo no Brasil e divulgador da literatura de Baudelaire. Seus primeiros poemas foram publicados em O Dilúculo (1883). Em São Paulo, no ano de 1888, juntamente com Afonso de Carvalho, Carvalho Mourão e Edmundo Lins, fundou a Folha Literária, ano em que publicou Músicas (versos parnasianos) e o panfleto Carta à Condessa D'Eu. Dirigiu, em companhia de Olavo Bilac, Vida Semanária e colaborou com o Diário Popular, Gazeta de São Paulo e Folha Popular, onde publicou a manifestações iniciais do movimento simbolista. Em Curitiba, onde exerceu também o magistério, criou a revista simbolista Victrix (1892)., publicou em 1913 o libreto Papilio Innocentia, , baseado no romance Inocência, do Visconde de Taunay, para a ópera do compositor suíço Léo Kessler. Emiliano Perneta, um dos fundadores do Centro de Letras do Paraná (1912) e considerado o Príncipe dos Poetas Paranaenses, é autor de Músicas (1888); Carta à Condessa D'Eu (1889); O Inimigo (prosa dramática - 1889); Alegoria (prosa dramática - 1903); Papilio Innocentia (1913); A Vovozinha (libreto de ópera infantil- 1917);  Ilusão (1911); Pena de Talião (1914); Setembro (1934), Poesias Completas (1945). Saber mais: Domingos Van Erven: Emiliano Perneta, Poeta ansioso pela revelação do mistério e A Poesia de Emiliano Perneta; Ivan Justen: Emiliano Perneta: Vida e Poesia de Província?. Há outras matérias sobre o autor, na web.

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