sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Arronches Junqueiro: Noite de Inverno

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

A chuva tanto fascina quanto apavora as crianças..., e muitos adultos. Principalmente se repleta de raios e trovões. Hoje, ao contrário da ritmada (quase acalanto) Chuva de Pedra, de Augusto Meyer, é uma tempestade que nos chega (quase apavorante), através dos versos cinematográficos do escritor português Arronches Junqueiro (1868-1940), em memorável Noite de Inverno. Este poema encontra-se também em Toda Poesia – Antologia Poética, organizada por Iba Mendes. Ah, amanhã a chuva continua caindo por aqui e, desta vez, na palavra sempre admirável de Jorge de Lima.



Noite  de  Inverno
Arronches Junqueiro

O vento rosna nas frinchas
das portas. Um pingo cai
compassado
a chorar
do beiral do meu telhado

E pela vastidão da noite escura
misteriosa
angustiosa,
ecoa a sinfonia da procela.
Enfurecido,
com braço vigoroso de bandido
o vento vem forçar-me os vidros da janela.

A luz
a minha cabeceira, oscila e treme.
Sinto um calafrio a repelar-me,
e olho a vida em doidas espirais…
parece uma bandeira a acenar-me,
a fazer-me sinais.

La fora ha uivos, gritos, estertores
de arvores a gemer,
numa miséria trágica de dores…
Troncos estalando,
folhas doidejando,
na luta colossal de querer viver.

O vento, como um deus louco e potente
em fúrias singulares,
rugindo como fera onipotente
sacode e torce, em crises de demente
os troncos seculares.

Alta noite.
O bandido cansou-se. Reina o silencio
Apenas um pingo cai
Compassado,
Espaçado,
A chorar
dos beirais do meu telhado.

*
ilustração de Joba Tridente.2016



António Casimiro Arronches Junqueiro (Setúbal-Portugal: 13 de janeiro de 1868 - 28 de setembro de 1940): jornalista, escritor, dramaturgo, arqueólogo e zoólogo..., tendo se dedicado à flora e fauna deste a juventude. Trabalhou na Biblioteca Municipal de Setúbal (916 a 1928). Entre suas obras, destacam-se: Júlia (peça em 4 atos, 1894); Flores d'Alma (1894); À sorte (comédia em 2 atos, 1895); Últimos dias de Pompeia (drama em 4 atos em verso, 1895);Urzes (1896); O asceta (poesia, 1896); A barcarola (romance em 4 atos, 1897); Teatro infantil (1907); Ligeira nuvem (episódio infantil em verso, 1908); Laura (poema em cinco cantos, 1914); Tumulares (sonetos, 1914); Abelha e malmequer (diálogo infantil em verso, 1916); Paz! (1918); Autos do Natal (1920); Pedaços d'alma (1920); Poesias, sonetos, a-propósitos (1920?); Campos da minha terra (poemeto, 1920); Do estaleiro (1930). Fonte: Wikipédia. Para saber mais: Arronches Junqueiro

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