segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Armando Côrtes-Rodrigues: Vozes da Noite

Aproveitando que no mês de setembro, além da primavera, e ou talvez por isso, o Brasil é tomado por feiras de livros e encontros literários, expondo a velha e a nova literatura para novos e velhos leitores, decidi (re)visitar alguns grandes escritores brasileiros e portugueses, cuja obra pode ser apreciada com prazer e considerações por crianças de qualquer idade. São poemas que remetem à infância, ao campo, aos jogos juvenis..., por vezes até melancólicos no seu saudosismo, mas sempre (e)ternos no registro lúdico de um tempo que já não há. Há muito!

O número de poemas será o de um a três, por autor, e as postagens sempre individuais (um por página) para melhor apreciação de cada obra.  Esta primeira edição contará com mais ou menos 30 escritores pinçados ao acaso em meus arquivos. Futuramente farei uma edição apenas com escritoras.

Quando cai a noite no campo, ao redor da casa ou nos cafundós da roça, qual é a voz que nos acalanta? No Brasil, Portugal e ou Açores serão as mesmas as Vozes da Noite? Ao seu dispor..., a delicadeza poética do escritor açoriano Armando Côrtes-Rodrigues (1891-1971), publicado em Antologia de Poemas de Armando Cortes-Rodrigues (1956). Amanhã, o mestre brasileiro Carlos Drummond de Andrade é quem vem falar da passagem do tempo.



Vozes  da  Noite
Armando Côrtes-Rodrigues

Vozes na Noite! Quem fala
Com tanto ardor, tanto afã?
Falou o Grilo primeiro,
Logo depois foi a Rã.

Pobre loucura dos homens
Quando julgam entendê-las...
Só eles pasmam os olhos
Neste encanto das estrelas.

Lá no silêncio dos campos
Ou no mais ermo da serra,
Na voz das rãs fala a Água,
Na voz dos grilos a Terra.

Só eles cantam a vida
Com amor e singeleza,
Por ser descuidada, alegre;
Por ser simples, com beleza.

Pudesse agora dizer-te,
Sem ser por palavras vãs,
O que diz a voz dos grilos,
O que diz a voz das rãs.

*
ilustração de Joba Tridente.2016


 Armando César Côrtes-Rodrigues (Vila Franca do Campo - Açores: 28.02.1891 - Ponta Delgada - Açores: 14.10.1971), escritor de prosa e verso, dramaturgo e etnólogo açoriano foi grande colaborador dos periódicos A Águia, Orpheu, Exílio, Presença, Cadernos de Poesia, Portucale e Atlântico. Ativista Cultural, fundador do Instituto Cultural Ponta Delgada e diretor da revista Insulana, Cortês-Rodrigues foi agraciado com o Prêmio Antero de Quental (1953), com o livro Horto Fechado e Outros Poemas. Poesia: Ode a Minerva (1922); Em Louvor da Humildade; Poemas da Terra e dos Pobres (1924); Cântico das Fontes (1934); Cantares da Noite Seguidos dos Poemas de Orpheu (1942); Quatro Poemas Líricos (1948); Horto fechado e Outros Poemas (1953). Teatro: Auto do Natal (1926); O Milhafre (1932); Quando o Mar Galgou a Terra (1940). Crónica: Voz do Longe (1961-1966). Etnografia: Poesia Popular Açoriana (1937); Cantar às Almas (1940); Cancioneiro Geral dos Açores (1982, 3 vols.), Adagiário Popular Açoriano (1982, 2 vols.); Antologia de Poemas de Armando Côrtes-Rodrigues (1956). Não há muita informação sobre o autor na web.

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