sábado, 2 de julho de 2016

Thomas Merton: Para Fazer Krishna Dormir

Enquanto não preparo nova seleção de poemas de Thomas Merton (1915-1968), fique com Para Fazer Krishna Dormir, em mais uma bela tradução livre de Marcílio Farias. As postagens anteriores você pode acessar aqui: Deus é Bom.












Para Fazer Krishna Dormir
de Thomas Merton
em tradução de Marcílio Farias

Esse acalanto para acabar com a tristeza dos mortais é
Pra você meu belo deus
Você que cavalga o Touro, você que cavalga o Grande Touro e a quem o meu amor
Chama Talelo.
Você cavalga enquanto eles matam porcos
E quebram os ossos e comem o tutano da Tristeza.
O Verbo Tamil amadurece no vento de explosões e aviações internas.
E você meu belo deus engatinha como um infante que
Sobrevive ao mundo em etapas de ruinas.
Mas não chore não Talelo,
O meu amor pelo seu amor tem frágeis pés de lótus
Como brotos recentes com
Sinetas no calcanhar para chamar as fadas.
Você veio beber água meu belo deus
E só encontrou leite envenenado.
Portanto chore não, belo amigo,
Os peixes fogem do arrozal e os lótus abertos
Bloqueiam o voo das abelhas
Enquanto as vacas sagradas se aproximam cheias
De leite cor de areia e amargura.
Você beija os pardais enquanto moedas tilintam na
Cintura e nos tornozelos das mulheres acorrentadas à esquinas
Você, meu belo, nu, e travesso semideus de
Olhos vermelhos e brotos de lótus e
Filhotes de leão aninhados aos seus pés que
Lavo no rio como as mulheres que não pintam
Os olhos por você.

*
ilustração de Joba Tridente.2016


NT: Thomas Merton morreu em 10 de Dezembro de 68 assassinado na Tailandia. Este poema foi escrito em 8 de Dezembro. Dois dias antes. Talelo é um nome fictício criado pelo Monge Feliz para Krishna. O Tamil é a tribo Dravda do Sul da India, para quem Krishna é a expansão plenária da beleza e do carinho humanos, diferentemente das tribos do Norte, para quem Krishna é uma divindade mais “abstrata”. Gudeman e Else veem aí uma semelhança grande com o Dioniso Zagreus de Euripides. Esse é um dos meus Poemas preferidos. O original de Merton não tem título, mas ele não faz oposição ao titulo que coloquei. Tenho certeza. Marcilio Farias
  
Thomas Merton  (1915-1968), escritor e monge trapista da Abadia de Getsêmani, Kentuchy, foi ativista social, pacifista e estudioso de religiões comparadas. Escreveu mais de setenta livros de prosa e verso, a maioria sobre espiritualidade. Em 1944 publicou Thirty Poems. O segundo livro, A Man in the Divided Sea, foi lançado em 1946. Entre suas obras de grande repercussão se destacam The Seven Storey Mountain (1948); No Man Is An Island (1955); The Way of Chuang Tzu (1965). Fontes: Wikipédia e Thomas Merton Center.

Marcílio Farias é formado e pós-graduado pela UnB (Universidade de Brasília) em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Em 1989 emigrou para os Estados Unidos. Vive e trabalha entre Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA). Obras publicadas/poesia: Visual Field (1996), Watermark Press, MD, EUA; O Livro Cor de Triângulo Cor-de-Rosa (2007), e Rito para Ressuscitar um Elefante (2010), ambos pela Scortecci Editora, São Paulo, Brasil. Link: Currículo completo. Poemas publicados no Falas ao Acaso: Moebius; Mandala; Passado incômodo; (John); Diálogo visto de longe na Praça de Sé.
  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...