quinta-feira, 28 de abril de 2016

Thomas Merton: Primeira lição sobre o homem

Quando publiquei o fascinante poema Paisagem com Criança (Landscape), de Thomas Merton (1915-1968), em belíssima tradução (livre) do escritor Marcílio Farias, esperava publicar, em breve, uma boa seleção de poemas do monge trapista. Continuei recebendo as excelentes traduções (livres) de Farias, mas ando meio sem tempo para ilustrar a todas. Por isso, fique com esta primeira leva de cinco maravilhas para cinco dias de reflexões sobre ser humano. Começo com Primeira Lição Sobre o Homem, um das mais antigas traduções de Marcílio Farias para First lesson about Man.

                            

PRIMEIRA LIÇÃO SOBRE O HOMEM
um poema de  Thomas Merton
in memoriam Martin Luther King Jr.
(assassinado em 04.04.1968)
em tradução (livre) de Marcílio Farias*

O Homem começa na Zoologia
Porque, dos animais, é o mais Triste.
Ele dirige um carro grande luxuoso e vermelho
Chamado ansiedade
Sonhando à noite que sobe e desce
Em múltiplos elevadores que
Se abrem para corredores imensos nos
Quais jamais acha a porta certa.
O homem é o animal mais triste, um
Comedor matinal de cereais e leite que
Banha sua pele em café e
Perde a paciência com
A origem das espécies.
O Homem desenha sua pele nos muros do mundo
E nas paredes do metrô
E desenha bigodes em todas as
Mulheres porque não sabe sorrir e ter prazer
A não ser na Zoologia.
Onde quer que ache uma cabine telefônica
Para ligar o numero do prazer
Ele sempre disca o numero errado.
Então ele constrói armas e se
Apaixona por revólveres
E por nomes pomposos e
Por carros lustrosos e negros
Com a marca da morte.
E agora lança Ansiedade a Marte e as
Estrelas como se afugentasse seus medos
Para a órbita de Vênus
- mas nem isso o acalma porque no
Espaço onde tenta fugir
Só existe o vazio e uma série de
Globos luminosos chamados Morte.
E assim, crianças,
Termina a primeira lição sobre o Homem. E agora
Crianças, podem começar a prova respondendo a
Pergunta que se segue:
“Por que será que o homem, esse animal
Mais triste, que começa com a Zoologia,
Perde-se todos os dias
Em seus próprios desastres?”

*
foto de Joba Tridente.2014


* Nota do Tradutor: Tradução livre de First lesson about Man, incluído no ultimo livro de Merton (Cables to the Ace) publicado postumamente em 69, alguns meses depois de seu assassinato na Tailândia - onde se encontrava para um encontro com seu amigo Tenzin Gyatso, 14º. Dalai Lama.

Thomas Merton  (1915-1968), escritor e monge trapista da Abadia de Getsêmani, Kentuchy, foi ativista social, pacifista e estudioso de religiões comparadas. Escreveu mais de setenta livros de prosa e verso, a maioria sobre espiritualidade. Em 1944 publicou Thirty Poems. O segundo livro, A Man in the Divided Sea, foi lançado em 1946. Entre suas obras de grande repercussão se destacam The Seven Storey Mountain (1948); No Man Is An Island (1955); The Way of Chuang Tzu (1965). Fontes: Wikipédia e Thomas Merton Center.

Marcílio Farias é formado e pós-graduado pela UnB (Universidade de Brasília) em Jornalismo, Cinema e Filosofia. Em 1989 emigrou para os Estados Unidos. Vive e trabalha entre Natal (Brasil) e Phoenix-Miami-Boston (EUA). Obras publicadas/poesia: Visual Field (1996), Watermark Press, MD, EUA; O Livro Cor de Triângulo Cor-de-Rosa (2007), e Rito para Ressuscitar um Elefante (2010), ambos pela Scortecci Editora, São Paulo, Brasil. Link: Currículo completo. Poemas publicados no Falas ao Acaso: Moebius; Mandala; Passado incômodo; (John); Diálogo visto de longe na Praça de Sé.

2 comentários:

  1. Grato por introduzir Merton aos seus leitores, caro Amigo e Poeta Imenso. Marcilio

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  2. ..., grato a você, poeta por me dar a oportunidade de conhecer Thomas Merton através da sua leitura tão particular. ..., a próxima série de poemas, ainda sem data, será sobre Cidades. abs.

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