A Poesia como Vontade de Representação é uma alegoria sem compromisso..., em quatro poemas primários: religião, íntimo, raiz,
mamulengo..., ao redor do livro capital de Arthur Schopenhauer (1788-1860):
O Mundo como Vontade e Representação
(conhecimento, natureza, beleza, ética), que marcou a minha juventude. Este primeiro opúsculo começou com re l i g i ã o. Seguiu com íntimo. Continua com raiz.
raiz
a poesia como vontade de representação
joba tridente
o mal-estar do tempo confunde a florada
das árvores que ainda restam
no dia da árvore
o mal-estar do tempo interrompe sementes
no prenúncio da primavera
o mal-estar do tempo confunde as cigarras
suas campainhas não alardeiam o cio
não mais clamam pela chuva
não mais cantam por mera garoa
não há ninfas para as doces raízes
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os corpos outrora lavados pelas águas dos céus
não jazem sobre a terra
os corpos outrora levados pelas águas dos céus
não desenvolvem sob a terra
os cantos não flutuam no eco das suas próprias
canções
na velocidade do som das estações
não há mais estações
os céus estão secos
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trouxe comigo (por anos)
uma cigarra morta colhida nas terras de Ilhéus
tão bonita no seu silêncio cinza-esverdeado
asas de transcendente transparência
e tessitura de filigranas furta-cor
presas num corpo de leveza absurda
quantos gramas pesa a essência?
não a sabia cigarra
tampouco que cantava para acasalar e
então desovar e então morrer e
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guardei-a numa caixinha (por anos)
nunca um verme cobrou a sua parte
nunca uma formiga a injuriou
nunca perdeu a beleza
nunca a essência retornou ao seu vazio
nunca sequer um tom da estridência
não a sabia eterna
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mudei de estado de cidade de casa
levando a bela cigarra
na sua caixinha
rolando entre livros e utensílios
e sempre tal e qual a encontrei
no brilho na transparência na cor do silêncio
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um dia a colhi cuidadosamente entre os dedos
e a levei aos ouvidos
como se leva uma concha do mar
quando se quer ouvir o murmúrio do mar
mas não ouvi o seu canto
caminhei até o jardim
e aos pés de uma florida acácia
depositei sua linda carcaça
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amanhã, na hora da lua cheia,
será hora de saudar as Salamandras
os troncos estão febris
os troncos estão febris
*
Ilustração de Joba Tridente . 2015
Joba Tridente em Verso : 25 Poemas
Experimentais; Quase Hai-Kai; em Antologias: Hiperconexões:
Realidade Expandida; 101 Poetas
Paranaenses; Ipê Amarelo, 26 Haicais;
Ce que je vois de ma fenêtre - O que eu
vejo da minha janela; Ebulição da
Escrivatura; em Prosa: Fragmentos da História
Antropofágica e Estapafúrdia de Um Índio Polaco da Tribo dos
Stankienambás; Cidades Minguantes; O Vazio no Olho
do Dragão. Contos , poemas e artigos
culturais publicados em diversos veículos de comunicação: Correio Braziliense, Jornal Nicolau, Gazeta do Povo ,
Revista Planeta ,
entre outros.
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