quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Luiz Guimarães Júnior: Idílio

A minha homenagem ao excelente escritor Luis Guimarães Junior começou com o belo poema A Morte da Águia, seguiu com o fascinante O Viajante e termina com a delicadeza e a sensualidade do Edílio. Excetuando A Morte da Águia, que encontrei na antologia Lyra Popular Brasileira (1927), disponibilizada pela Brasiliana-USP, os outros dois estão da edição digital do livro Sonetos e Rimas, da Academia Brasileira de Letras. Que este envolvente Idílio sirva de inspiração para os autores enamorados e ou românticos...



Idílio
Luiz Guimarães Junior

Ao pé da cerca elevada,
     Meu cavalo impaciente
     Agita a crina orvalhada...
     No entanto, amorosamente,

Eu e ela caminhando
     Sobre a folha adormecida,
     Vamos cismando, cismando,
     Como Fausto e Margarida.

Do seu cabelo abundante
     O vago e sentido aroma,
     Igual ao cheiro hesitante
     Dos lírios duma redoma,

Lentamente me fascina,
     E eu beijo essa trança preta,
     Qual pousam sobre a bonina
     As asas da borboleta.

A noite, branca e macia,
     Cai silenciosamente:
     Mais claro que o claro dia,
     Boia o luar no oriente.

Tudo nos causa quebrantos
     E emoções vertiginosas,
     A flor, os astros, os prantos
     Das fontes misteriosas;

As lucíolas fulgentes
     Na sombra azul do arvoredo,
     E as mornas brisas plangentes
     Que passam como um segredo.

Por vezes, a sua fronte
     Sobre o meu peito descansa
     Como a estrela no horizonte,
     Ou como a vaga, em bonança.

A tremer... por quê? ficamos
     Estreitamente abraçados,
     Na hora em que os curvos ramos
     Dos largos bosques copados,

Vão, pouco a pouco, luzindo
     Do dia ao primeiro encanto,
     E as plantas movem sorrindo
     O tenro caule... Entretanto

Ao pé da cerca elevada,
     Meu cavalo impaciente
    Escarva a grama orvalhada...
    E a lua cai no poente.

*
Ilustração de Joba Tridente - 2015


LUIZ Caetano Pereira GUIMARÃES JÚNIOR (1845-1898): advogado, diplomata, escritor (de verso e prosa), jornalista e teatrólogo brasileiro. Graduado pela Faculdade de Direito do Recife, seguiu a carreira diplomática, servindo em Santiago do Chile, Roma e Lisboa..., onde, ao se aposentar, fixou moradia e desfrutou da prazerosa companhia de Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Fialho Almeida. Guimarães Júnior foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras e colaborador de diversos veículos de comunicação: Jornal do Domingo: Revista Universal (1881-1888); Ribaltas e Gambiarras (1881), A ReformaA RepúblicaO Correio Paulistano; Imprensa Acadêmica de São PauloGazeta de Notícias. Na web há farto material sobre Luiz Guimarães Junior, autor de Poesia: Corimbos (1866); Noturnos (1872); Sonetos e Rimas (1880); Ficção: Filigranas (1872); Contos sem Pretensão (1872); Curvas e Ziguezagues (1872), Caprichos Humorísticos em Prosa (1872). Romance: Lírio Branco (1862); A Família Agulha (1870); Teatro: Uma Cena Contemporânea (1862); As Quedas Fatais; André Vidal; As Joias Indiscretas; Um Pequeno Demônio; O Caminho Mais Curto; Os Amores Que Passam; Valentina; A Alma Do Outro Mundo (1913); Biografias: A. Carlos Gomes; Pedro Américo (1871). Iracema Guimarães Vilela, filha do escritor, em seu livro Luís Guimarães Júnior: Ensaio Biobibliográfico (1934), revela que o autor, pouco antes de morrer, em 1898, queimou diversos manuscritos (peças, crônicas e poemas), incluindo as duas primeiras edições de Sonetos e Rimas (1880 e 1886) suas últimas obras impressas em vida.

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