domingo, 9 de novembro de 2014

Cecília Meireles: Vento

O livro Viagem, de Cecília Meireles, publicado pelas Edições Oriente, em 1939, através da Editorial Império - Lisboa, reunindo poesias de 1929 a 1937, possivelmente é a obra mais absurdamente amarga da escritora. A tristeza é tão grande que não permite uma leitura direta. Há que se dar um tempo de poema a poema. VENTO é uma bela raridade neste mar de lágrimas. Cecília Meireles morreu no dia 9 de Novembro de 1964.


                   

VENTO
Cecília Meireles

PASSARAM os ventos de Agosto, levando tudo.
As árvores humilhadas bateram, bateram com os ramos no chão.
Voaram telhados, voaram andaimes, voaram coisas imensas:
os ninhos que os homens não viram nos galhos,
e uma esperança que ninguém viu, num coração.

Passaram os ventos de Agosto, terríveis, por dentro da noite.
Em todos os sonos pisou, quebrando-os, o seu tropel.
Mas, sobre a paisagem cansada da aventura excessiva —
sem forma e sem eco,
o sol encontrou as crianças procurando outra vez o vento
para soltarem papagaios de papel.


*
Ilustração de Joba Tridente - 2014



Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964). Escritora, professora e jornalista. Em 1919, aos 18 anos, publicou Espectro, o seu primeiro livro de poesia. Cecília Meireles é autora de uma vasta obra onde se destacam: Criança, meu amor (1923), Nunca Mais (1923), Poema dos Poemas (1923). Batuque, Samba e Macumba (1933), A Festa das Letras (1937), Viagem (1939), Olhinhos de Gato (1940), Vaga Música (1942), Problemas de Literatura Infantil (1950), Romanceiro da Inconfidência (1953), Solombra (1963), Poemas de Israel (1963), Ou Isto Ou Aquilo (1964).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...