terça-feira, 12 de agosto de 2014

TT Catalão: Poesia III

Sete poemas de TT Catalão. Dois da antologia Ebulição da Escrivatura - Treze Poetas Impossíveis. Todos atemporais. Ao final, uma “biografia” de catálogo de exposição.


                 

TT Catalão - III

Uma cidade pode ser uma cilada, armadilha de ilhas, se nela
ninguém se dá ou dela se torna cerco e cidadela, fuga e
fantasia, verdade e balela.
Uma cidade pode ser uma saída se nela se diluir a saudade
romper o selo, abrir a cela, perder do dono seus truques e sua
chancela.
Uma cidade pertence a quem por ela se dê, instrumentos
vivos da civilidade contra o vil, o vã e a vaidade; ferramentas
de carne e osso construindo a cidade projeção de si no
projeto cidadão de quem se doa inteiro sem perder-se na
luxúria da parcela.
Uma cidade é a celebração cotidiana de quem se entrega,
se expõe em paixão sem cautela. Uma cidade são tantas
quantas as suas virtudes e mazelas.
Na cidade do "vale tudo", domínio por tabela, deve valer o
valor de todos parido das nossas entranhas, nascido das
nossas costelas.
Cidade limpa, clara, musa, fonte, berço, signo, busca, luta,
prazer, dor, espaço aberto sem chaves, conchavos, trancas,
trancos. Abracadabra-abra-cada-cadeia-abra, cidade de mil
janelas, o céu como tela e a consciência solidária como
sonho que se alimenta e vela.
Uma cidade convive com o carpete e a favela. Renasce todo
dia quando a gente se compromete pela vida que a fertiliza e
a faz mais bela, contra o cerco, o ciúme, o crime e a imagem
que a nivela como origem da falência e o início da fivela.
A cidade é a soma e o sumo dos que se criam criando, nela.


*
Ilustração: foto e intervenção de Joba Tridente - 2014

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