segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Odes de Anacreonte - 2

O filólogo helenista francês Henri Estienne foi quem revelou ao mundo as 52 Odes atribuídas a Anacreonte (572 a.C. - 485 a.C.), ao imprimi-las, em França, no ano de 1554. As odes logo ganharam variações e imitações na Europa. No Brasil, também houve espaço para apreciação e o exercício da poesia ligeira grega aos moldes de Anacreonte. Há uma controvérsia grande sobre a autoria das Odes de Anacreonte, traduções, versões e adaptações mundo afora e Brasil adentro. Ao que se sabe, a primeira edição brasileira bilíngue (grego e português) das Odes de Anacreonte, com tradução (direta do grego) é de Almeida Cousin e foi lançada em 1948, pela Editora Pongetti. Tenho a edição bilíngue Odes de Anacreonte, de Cousin, lançada pela Ediouro em 1966. Curiosamente a edição Odes Anacreônticas, traduzidas por Jamil Almansur Haddad, lançada em 1952, pela José Olympio, traz uma excelente introdução de Haddad escrita em 1945. Nunca vi Haddad na lista dos tradutores das odes. Controvérsias à parte, mais um “contraponto”: Eros e a Abelha.



EROS E A ABELHA
Anacreonte

ρως ποτ’ ν όδοισι
κοιμωμένην μέλιτταν
οκ εδεν, λλ’ τρώθη.
τν δάκτυλον παταχθείς
τς χειρς λόλυξε,
δραμν δ κα πετασθείς
πρς τν καλν Κυθήρην
λωλα, μτερ,’ επεν,
λωλα κποθνήσκω·
φις μ’ τυψε μικρός
πτερωτός, ν καλοσιν
μέλιτταν ο γεωργοί.’
δ’ επεν· ‘ε τ κέντρον
πονες τ τς μελίττας,
πόσον δοκες πονοσιν,
ρως, σους σ βάλλεις;’


O Amor e a Abelha

Eros, no meio das rosas,
Uma abelha, ali escondida,
Não viu. Dela foi picado
Seu dedinho. As mãos mimosas
Sacode, desesperado,
Olha e, abrindo os braços para
A bela mãe Citeréia:
- “Eu morro, minha mãe cara!
Eu morro! Expiro, mãe-déia!
Picou-me a serpentezinha
Alada, que abelha chamam
Aqueles homens da terra!”
E ela disse: - “A agulhazinha
De uma abelha te dói tanto...
Julga, ó Eros, os que feres
Como hão de sofrer e quanto!”

A tradução de Almeida Cousin encontra-se na segunda edição bilíngue Odes de Anacreonte, Edições de Ouro (1966.


Eros e a Abelha

Eros, dormindo, mal sentiu que a abelha
lhe pôs no dedo uma mancha vermelha.
E enchendo o céu de um choro que alanceia
correu, quase a voar, em direção da Citeréia.
“Minha mãe! Eis que morro”, a soluçar lhe diz
“Como eu sou infeliz!
Pequena serpe alada
magoou-me o dedo”. E Afrodite sagrada,
a amena filha de Citera
falou: “Se um aguilhão assim te dilacera,
o que dirás de tanto machucado
e que o teu dardo tem ferido e envenenado?”

Tradução de Jamil Almansur Haddad publicada em Odes Anacreônticas, Editora José Olympio (1952).


(sem título)

Eros, certa vez, entre rosas
uma abelha adormecida
calhou não ver e foi picado.
Com o dedo ferido
da mão se pôs a gritar,
e a toda a pressa esvoaçou
para junto da bela Citereia:
“Estou perdido, mãe! – dizia –,
estou perdido e às portas da morte!
Uma serpente me mordeu, pequenina,
dessas com asas a que chamam
abelha os agricultores.”
Ela lhe respondeu: “Se o ferrão
te magoa, o de uma abelha,
quanto julgas tu que magoas,
Eros, aqueles que tu atinges?”

Tradução de Carlos A. Martins de Jesus publicada em Anacreontea - Poemas à maneira de Anacreote - Edição digital Fluir Perene (2009).

*
arte de Joba Tridente (2014)


José Coelho de Almeida Cousin (1897 - 1991), farmacêutico, advogado escritor, cronista, crítico, jornalista. Currículo completo em Odes de Anacreonte - 1.  

Jamil Almansur Haddad (1914 - 1988), médico, crítico, ensaísta, escritor, historiados, teatrólogo, antologista, tradutor. Currículo completo em Odes de Anacreonte - 1.  

Carlos A. Martins de Jesus é Doutor em Letras pela Universidade de Coimbra, na especialidade de Literatura Grega (2012). Currículo completo em Odes de Anacreonte - 1.

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