domingo, 29 de junho de 2014

Joba Tridente: VAIA

..., hoje, no FaceBook, circulou uma foto da torcida brasileira de Belo Horizonte vaiando o Hino Chileno, na Copa do Mundo da FIFA de 2014. ..., compartilhei a foto do IG, já compartilhada pelo jornalista Tão Gomes Pinto. ..., no meu post, o jornalista Montezuma Souza falou da sua infância, quando ouvia os jogos pelo rádio, da padronização do tempo dos hinos e da falta de respeito dos brasileiros em BH. ..., eu também comentei e sem padronizar o verbo, acabei fazendo uma crônica: VAIA.



VAIA
de Joba Tridente

..., antes através do rádio, imaginava-se a garra dos jogadores.  ..., criança, na década de 1960, tive álbum, colecionei figurinhas que perdi e ganhei no bafo. ..., e olha que nunca fui muito chegado ao futebol, porque me reservavam o detestável gol.

..., hoje o futebol me parece um festival de celebridades e suas futilidades. ..., se não há mais bobo em campo, penso que também não mais a magia do genial Garrincha. ..., se muito, entre um e outro daqui e de mundo acolá, ainda se vê a técnica que consagrou Pelé. ..., mas não há mais o balé que arrepiava no Canal 100, a dança-concerto desconcertando o adversário. ..., exagero, talvez ainda haja. ..., eu é que vejo apenas fragmentos de jogos da copa. ..., outros jogos e campeonatos não me abalam. ..., não torço. ..., me apavoram as torcidas. ..., me apaixono pela beleza de algumas camisas. ..., gosto da combinação de cores.

..., numa competição mundial, com ou sem a fifalcatrua, acho bonito ver os jogadores entrando em cena. ..., confiantes e perfilados, mão no coração, olhos cerrados cantando, pensando, sussurrando, orando o seu hino natal, ainda que ovacionado e ou vaiado. ..., ato, gesto que se repete na roleta dos pênaltis. ..., sempre que vejo um goleiro à espera, à espera do chute, à espera da bola, me lembro do perturbador O Medo do Goleiro Diante do Pênalti (1972), de Wim Wenders.

..., houve um tempo em que acreditei em muita coisa militante que ouvi dizer, até descobrir, por mim mesmo, que se não se lê no original, deve-se duvidar das traduções. ..., assim como me ligo nas camisas combinando cores, me enterneço com as melodias dos hinos combinando harmonias, por vezes estranhas. ..., hinos que soam como marcha, brado, mantras. ..., a música sempre chega antes que a letra, em qualquer canção. ..., muitas vezes, a letra é o que menos importa. ..., prefiro dar asas à imaginação e deixar a flâmula tremular e a bola vagar livre pelo gramado.

..., não se padroniza sentimentos. ..., padroniza-se plateia alvoroçada no telão! ..., não se padroniza tempo. ..., padroniza-se os quinze segundos de fama na exposição no telão! ..., não se padroniza hinos. ..., padroniza-se a educação!

*
Ilustração de JT- 2014

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