sexta-feira, 29 de março de 2013

Literatura Sacra e Jocosa: Guerra Junqueiro 3



Nesta Semana Santa (para católicos praticantes) estou postando uma literatura compilada de edições raras, que se destaca pela idiossincrasia religiosa. Preferencialmente mantendo a grafia antiga. Nesta sexta-feira Guerra Junqueiro receita A Água de Lourdes, um poema publicado em A Velhice do Padre Eterno (1885).


A Água de Lourdes

Se ergueis uma capela à água milagrosa,
            Esse elixir divino,
Então erguei também um templo à caparrosa
            E outro templo ao quinino.

Se a água faz milagre, o que eu vos não discuto,
            E por isso a adorais,
Ajoelhemos então em face do bismuto
            E doutras drogas mais.

Façamos da magnésia e clorofórmio e arnica
            As hóstias do sacrário;
Transformemos o templo enfim numa botica
            E Deus num boticário.

Que a vossa água opere imensas maravilhas
            Eu não duvido nada:
É o Espirito Santo engarrafado em bilhas,
            É o milagre à canada.

Desde que se espalhou pelo universo o eco
            Do milagre feliz,
Tartufo nunca mais encheu o seu caneco
            Em outro chafariz!
  


Abílio Manuel Guerra Junqueiro (17.9.1850 - 7.7.1923) foi jornalista, escritor, e também se envolveu com política. Um dos mais polêmicos e importantes escritores portugueses é autor, entre outros, de: Viagem À Roda Da Parvónia, A Morte De D. João (1874), Contos para a Infância (1875), A Musa Em Férias (1879), A velhice do padre eterno (1885), Finis Patriae (1890), Os Simples (1892), Oração Ao Pão (1903), Oração À Luz (1904), Gritos da Alma (1912), Pátria (1915), Poesias Dispersas (1920). Algumas obras estão disponibilizadas gratuitamente no Projeto Gutemberg. A grafia acompanha a da edição de A Velhice do Padre Eterno de 1926.

Ilustração de Leal da Câmara (1876 - 1948) para A Velhice do Padre Eterno - Edição Lello & Irmãos Editores, de 1926.

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