terça-feira, 20 de novembro de 2012

Geraldo Bessa: O menino negro não entrou na roda


Não sou muito ligado a datas. Para mim todo dia é dia de todo dia e do que e de quem quiser o dia. Como havia prometido publicar algo da Literatura Africana, achei apropriado aproveitar a Semana da Consciência Negra, para começar. Assim, a cada dia (até 24 de novembro de 2012) postarei um conto, um poema... 


O menino negro não entrou na roda

O menino negro não entrou na roda
das crianças brancas - as crianças brancas
que brincavam todas numa roda viva
de canções festivas, gargalhadas francas...

O menino negro não entrou na roda.

E chegou o vento junto das crianças
- e bailou com elas e cantou com elas
as canções e danças das suaves brisas,
as canções e danças das brutais procelas.

O menino negro não entrou na roda.

Pássaros, em bando, voaram chilreando
sobre as cabecinhas lindas dos meninos
e pousaram todos em redor. Por fim,
bailaram seus voos, cantando seus hinos...

O menino negro não entrou na roda.

"Venha cá, pretinho, venha cá brincar"
- disse um dos meninos com seu ar feliz.
A mamã, zelosa, logo fez reparo;
o menino branco já não quis, não quis...

O menino negro não entrou na roda.

O menino negro não entrou na roda
das crianças brancas. Desolado, absorto,
ficou só, parado com olhar cego,
ficou só, calado com voz de morto.

*

Geraldo Bessa Victor (1917 - 1985), escritor, poeta, ensaísta e jornalista angolano, é natural de Luanda, onde concluiu seus estudos. Na década de 1950, em Lisboa, licenciou-se em Direito e, além do exercício da advocacia, ganhou reconhecimento com a publicação de artigos e crónicas em vários jornais angolanos, entre os quais o jornal A Província de Angola, tendo feito parte do movimento "Cultura I" e da revista Mensagem. Geraldo Bessa cantou e exaltou a cultura africana e mais concretamente a angolana. O menino negro não entrou na roda e Kalundu foram os dois primeiros poemas selecionados para uma antologia, em 1958, por Mário de Andrade. Em 2001, a Editora Imprensa Nacional - Casa da Moeda compilou e editou toda a sua obra poética. Fonte: Wikipédia.

Ilustração de Joba Tridente 

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