quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Helena Kolody - 100 anos - 9


Sol - Ilustração de Joba Tridente para Helena Kolody - 100 anos - 9

Que a poesia de Helena Kolody é de uma beleza inebriante, não há dúvida. Por vezes dolorida, ela chega ao leitor após intensa lapidação do verbo e do verso, em uma catarse tangente, sem jamais esconder o seu sujeito. O seu poema curto encurta distâncias para contagiar até mesmo os “desavisados” de primeira leitura. Através dele imagino quão envolventes foram as suas aulas no Instituto de Educação do Paraná: Escolhi o Magistério levada pelo impulso irresistível da vocação. A poesia foi um imperativo psicológico. Ao Magistério, dediquei os melhores anos de minha vida. Lecionei com prazer e entusiasmo. Amei os alunos como se fossem meus irmãos, meus filhos. (...) O Magistério e a poesia são as duas asas de meu ideal.

*
Grafite (1988)
Meu nome,
desenho a giz
no muro do tempo.

Choveu,
sumiu.


*
Pirilampejo (1992)
O sapo engoliu
a estrelinha que piscava
no escuro do brejo.

Ficou mais sombria a noite
sem o seu pirilampejo.


*
De Olhos Fechados (1993)
O sol forte ofusca.
A chuva estreita o horizonte.
Limita-me a vida.

A sonhar, de olhos fechados,
vejo melhor e mais longe.


Hoje a sensibilidade poética de Helena Kolody e o seu amor ao magistério encontra eco na literatura de Jane Sprenger Bodnar que, além de poemas de rara beleza (e melancolia), partilha com a mestra a dedicação ao Magistério, lecionando no mesmo Instituto de Educação do Paraná. Em entrevista à jornalista e escritora Marília Kubota, postada no site Escritoras Suicidas, Jane disse que, para ela, a poesia é “Algo que me conforta de uma antiga sensação de deslocamento e solidão em relação ao mundo real, prático, objetivo. Uma forma de expressão, encantamento e recriação. As grandes questões da humanidade continuam envoltas em neblina. A poesia não busca respostas, a poesia serve para "desacostumar as palavras", como disse o poeta Manoel de Barros.

Em uma breve entrevista à designer gráfica e escritora Tereza Yamashita, postada no site Abraços Dobrados, Jane Sprenger, que também coordena oficinas de literatura para crianças e adolescentes com habilidades especiais na área da linguística, falou: Procuro compartilhar com os estudantes textos que tenham me sensibilizado, pela sua beleza, humor ou questionamentos, levando-se em conta a nossa matéria-prima, que são as palavras. Trabalho onde a poeta paranaense  Helena Kolody estudou Magistério e lecionou Biologia por mais de vinte anos, é uma honra para mim!

*
gravura
imprimes em papel de seda
as nuvens de tuas lágrimas
até que só haja
uma linha d'água


*
estrelas de sábado
guardadas numa caixa
de sapatos

o passado
passado a limpo:
vaga-lumes


*
instalação
não importa
quero aberta a janela

perigo não há
já me assaltaram tantos sonhos

leve tudo
deixe apenas a luz do sol

grudada na parede
grafitando
o nome das horas


Jane Sprenger Bodnar nasceu em Curitiba. É autora do fantástico objeto-poético Homeopoética - Poemas em Cápsulas (1991), em parceria com Rollo de Resende e Fernando Zanella; do livro infantil Luísa Cuidadora de Planetas (2003) e integrante da antologia das escritoras suicidas: Dedo de Moça (2009). Jane publicou textos literários no jornal Nicolau (PR), Correio de Notícias (PR), A Notícia (SC), Mulheres Emergentes (MG), revista Textuale (Itália). Outros poemas seus podem ser lidos em Germina Literatura e Escritoras Suicidas.

Ilustração de Joba Tridente - 2012

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