Que a poesia de Helena Kolody é de uma beleza inebriante, não há dúvida. Por vezes
dolorida, ela chega ao leitor após intensa lapidação do verbo e do verso, em
uma catarse tangente, sem jamais esconder o seu sujeito. O seu poema curto
encurta distâncias para contagiar até mesmo os “desavisados” de primeira
leitura. Através dele imagino quão envolventes foram as suas aulas no Instituto
de Educação do Paraná: Escolhi o
Magistério levada pelo impulso irresistível da vocação. A poesia foi um
imperativo psicológico. Ao Magistério, dediquei os melhores anos de minha vida.
Lecionei com prazer e entusiasmo. Amei os alunos como se fossem meus irmãos,
meus filhos. (...) O Magistério e a poesia são as duas asas de meu ideal.
*
Grafite (1988)
Meu nome,
desenho a giz
no muro do tempo.
Choveu,
sumiu.
*
Pirilampejo (1992)
O sapo engoliu
a estrelinha que piscava
no escuro do brejo.
Ficou mais sombria a noite
sem o seu pirilampejo.
*
De
Olhos Fechados (1993)
O sol forte ofusca.
A chuva estreita o horizonte.
Limita-me a vida.
A sonhar, de olhos fechados,
vejo melhor e mais longe.
Hoje a
sensibilidade poética de Helena Kolody
e o seu amor ao magistério encontra eco na literatura de Jane Sprenger Bodnar que, além de poemas de rara beleza (e
melancolia), partilha com a mestra a dedicação ao Magistério, lecionando no
mesmo Instituto de Educação do Paraná. Em entrevista à jornalista e escritora
Marília Kubota, postada no site Escritoras Suicidas, Jane
disse que, para ela, a poesia é “Algo que
me conforta de uma antiga sensação de deslocamento e solidão em relação ao
mundo real, prático, objetivo. Uma forma de expressão, encantamento e
recriação. As grandes questões da humanidade continuam envoltas em neblina. A
poesia não busca respostas, a poesia serve para "desacostumar as
palavras", como disse o poeta Manoel de Barros.”
Em uma
breve entrevista à designer gráfica e escritora Tereza Yamashita, postada no
site Abraços Dobrados, Jane Sprenger, que também coordena
oficinas de literatura para crianças e adolescentes com habilidades especiais
na área da linguística, falou: Procuro
compartilhar com os estudantes textos que tenham me sensibilizado, pela sua
beleza, humor ou questionamentos, levando-se em conta a nossa matéria-prima,
que são as palavras. Trabalho onde a poeta paranaense Helena Kolody
estudou Magistério e lecionou Biologia por mais de vinte anos, é uma honra para
mim!
*
gravura
imprimes em papel de seda
as nuvens de tuas lágrimas
até que só haja
uma linha d'água
*
estrelas de sábado
guardadas numa caixa
de sapatos
o passado
passado a limpo:
vaga-lumes
*
instalação
não importa
quero aberta a janela
perigo não há
já me assaltaram tantos sonhos
leve tudo
deixe apenas a luz do sol
grudada na parede
grafitando
o nome das horas
Jane
Sprenger Bodnar nasceu
em Curitiba. É autora do fantástico objeto-poético Homeopoética - Poemas em Cápsulas (1991), em parceria com Rollo de
Resende e Fernando Zanella; do livro infantil Luísa Cuidadora de Planetas (2003) e integrante da antologia
das escritoras suicidas: Dedo de Moça (2009).
Jane publicou textos literários no jornal Nicolau
(PR), Correio de Notícias (PR), A Notícia (SC), Mulheres Emergentes (MG), revista Textuale (Itália). Outros poemas
seus podem ser lidos em Germina Literatura e
Escritoras
Suicidas.
Ilustração
de Joba Tridente - 2012
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