Nos últimos 100 anos muita coisa mudou na
Literatura Infantil..., inclusive o conceito de Literatura Infantil. Veja o que
pensava o grande escritor Olavo Bilac
quando, a pedido Editora Francisco Alves, escreveu, em 1895, o seu famoso livro Poesias Infantis, publicado em 1904 e 1929:
Ao Leitor
Quando a casa Alves & Cª me incumbiu de
preparar este livro para uso das aulas de instrução primária, não deixei de
pensar, com receios, nas dificuldades grandes do trabalho. Era preciso fazer
qualquer coisa simples, acessível à inteligência das crianças; e quem vive a
escrever, vencendo dificuldades de forma, fica viciado pelo hábito de fazer
estilo. Como perder o escritor a feição que já adquiriu, e as suas complicadas
construções de frase, e o seu arsenal de vocábulos peregrinos, para se colocar
ao alcance da inteligência infantil?
Outro perigo: a possibilidade de cair no extremo
oposto – fazendo um livro ingênuo demais, ou, o que seria pior, um livro, como
tantos há por aí, falso, cheio de histórias maravilhosas e tolas que
desenvolvem a credulidade das crianças, fazendo-as ter medo de coisas que não
existem. Era preciso achar assuntos simples, humanos, naturais, que, fugindo da
banalidade, não fossem também fatigar o cérebro do pequenino leitor, exigindo
dele uma reflexão demorada e profunda.
Mas a dificuldade maior era realmente a da
forma. Em certos livros de leitura que todos conhecemos, os autores, querendo
evitar o apuro do estilo, fazem períodos sem sintaxe e versos sem metrificação,
uma poesia infantil conheço eu, longa, que não tem um só verso certo! Não é
irrisório que, querendo educar o ouvido da criança, e dar-lhe o amor da
harmonia e da cadência, se lhe deem justamente versos errados, que apenas são
versos por que rimam, e rimam quase sempre erradamente?
Não sei se consegui vencer todas essas
dificuldades. O livro aqui está. É um livro em que não há animais que falam,
nem fadas que protegem ou perseguem crianças, nem as feiticeiras que entram
pelos buracos das fechaduras; há aqui descrições da natureza, cenas de família,
hinos ao trabalho, à fé, ao dever; alusões ligeiras à história da pátria,
pequenos contos em que a bondade é louvada e premiada.
Quanto ao estilo do livro, que os competentes o
julguem. Fiz o possível para não escrever de maneira que parecesse fútil demais
aos artistas e complicada demais ás crianças.
Se a tentativa falhar, restar-me-há o consolo de
ter feito um esforço digno. Quis das à literatura escolar do Brasil um livro
que lhe faltava.
O.B.
A
Pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que
nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que
floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos
ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos
inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de
insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde
impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que
agasalha...
Quem com seu suor a fecunda e umedece,
vê pago o seu esforço, e é feliz, e
enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
Olavo
Brás Martins dos Guimarães Bilac (16.12.1865 – 28.12.1918), jornalista,
escritor e membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1896), onde ocupou
a cadeira 15, cujo patrono é o poeta Gonçalves Dias. É autor de Poesias
Infantis (1904 ou 1929); Teatro Infantil (?); Contos Pátrios (1904); Antologia
Poética (?); Crônicas e Novelas (1894); Tarde (1919); Crítica e Fantasia
(1906); Tratado de Versificação (1910); Dicionário de Rimas (1913); Ironia e
Piedade (1916); Conferências Literárias (1906).
Arte de
Joba Tridente sobre foto de: (?)
Que sensivel!... é muito difícil escrever pra crianças... tem q se transformar o rebuscado em simples... talento para poucos :)
ResponderExcluirOlá, Ariete.
ExcluirSer (e não parecer) simples na lida diária com o verbo
é um exercício para muitos,
mas um domínio para poucos.
Abs
Hj vi uns vídeos de escolas q mostravam toda uma mobilização de crianças e professores “valorizando o ser humano”... chorei... chorei de saudades de lembrar uma coisa singela q fiz em uma escola q trabalhei, qdo os EUA invadiram o Iraque... uma manifestação pela paz... nossa, foi bem trabalhoso, mas o resultado foi tão bacana... senti tanta falta das crianças... eu curtia muito ser profe... hj eu escrevo pros pequenos... faço isso com tanto prazer... foi simbolico a mim essa postagem sua :) grande abraço
ResponderExcluirOlá, Ariete,
Excluirsó hoje vi seu novo comentário.
Dia desses, trabalhando num projeto literário,
me lembrei de um livro de leitura e interpretação de texto,
com obras curtas (prosa e verso) de diversos autores,
do meu tempo de primário e que, infelizmente, não é mais usado,
parece-me que por conta de Direitos Autorais,
que me escancarou portas e janelas para as delícias da literatura.
Ali também estava Bilac,com os seus poéticos contos.
Que bom saber da sua (pré)ocupação humanitária
e que é também escreve para os pequenos.
Fale mais da sua obra!
Tem site ou blog?
Vamos nos falando.
Grande abraço.
T+