A Avó
A avó, que tem oitenta anos,
Está tão fraca e velhinha!...
Teve tantos desenganos!
Ficou branquinha, branquinha,
Com os desgostos humanos.
Hoje, na sua cadeira,
Repousa, pálida e fria,
Depois de tanta canseira:
E cochila todo o dia,
E cochila a noite inteira.
Às vezes, porém, o bando
Dos netos invade a sala...
Entram rindo e papagueiando:
Este briga, aquele fala,
Aquele dança, pulando...
A velha acorda sorrindo.
E a alegria a transfigura;
Seu rosto fica mais lindo,
Vendo tanta travessura,
E tanto barulho ouvindo.
Chama os netos adorados,
Beija-os, e, tremulamente,
Passa os dedos engelhados,
Lentamente, lentamente,
Por seus cabelos doirados.
Fica mais moça, e palpita,
E recupera a memória,
Quando um dos netinhos grita:
“Ó vovó! conte uma história!
Conte uma história bonita!”
Então, com frases pausadas,
Conta histórias de quimeras,
Em que há palácios de fadas,
E feiticeiras, e feras,
E princesas encantadas...
E os netinhos estremecem,
Os contos acompanhando,
E as travessuras esquecem,
- Até que, a fronte inclinando
Sobre o seu colo, adormecem...
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (16.12.1865 – 28.12.1918),
jornalista, escritor e membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1896),
onde ocupou a cadeira 15, cujo patrono é o poeta Gonçalves Dias. É autor de
Poesias Infantis (1904 ou 1929); Teatro Infantil (?); Contos Pátrios (1904);
Antologia Poética (?); Crônicas e Novelas (1894); Tarde (1919); Crítica e
Fantasia (1906); Tratado de Versificação (1910); Dicionário de Rimas (1913);
Ironia e Piedade (1916); Conferências Literárias (1906).
Ilustração de Joba Tridente.2012
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