segunda-feira, 2 de abril de 2012

Friedrich Hölderlin: Hipérion ou O Eremita na Grécia



Hipérion ou O Eremita na Grécia

Acabei de ler o tocante romance poético Hipérion ou O Eremita na Grécia (1797), de Friedrich Hölderlin (1770 - 1843), com tradução de Erlon José Paschoal, numa edição da Nova Alexandria (2003). A sua narrativa se dá através das cartas que o nostálgico Hiperion, apaixonado por uma Grécia há muito distante, envia ao seu amigo Belarmino, que ficou na Alemanha, falando das suas desventuras em terras gregas e do seu desesperado amor por Diotima. Não sei o quanto gostei. A inconstância de Hipérion me incomodou..., assim como me incomoda a minha. Talvez seja puro reflexo. Talvez autodefesa. Talvez pela leitura tardia. Na década de 1970, ainda estudava Mitologia Grega. Hoje, faço consultas casuais. Posso estar enganado, mas me parece que esta obra de Hölderlin inspirou Mika Waltari (1908 – 1979) em O Etrusco.

Excerto: na terceira carta a Belarmino, diz Hipérion: (...) Como o trabalhador no sono que o revigora, meu ser inquieto afunda muitas vezes, nos braços do passado inocente./ Sossego da infância! Sossego celestial! Quantas vezes me vejo sereno diante de você numa contemplação amorosa, tentando recordá-lo! Mas só nos restam conceitos daquilo que, um dia, foi ruim e depois remediado; mas da infância, da inocência não temos quaisquer conceitos./ Por ser ainda uma criança serena e nada saber de tudo o que nos cerca, não era eu mais do que sou agora, depois de todas as agruras do coração e de todas as reflexões e embates?/ Sim! A criança é um ser divino enquanto não submerge na cor de camaleão dos homens./ Ela é inteiramente o que é e, por isso, tão bela?/ A força da lei e do destino não a toca. Na criança, a liberdade existe sozinha./ Nela, há paz; ela ainda não se desagregou interiormente. Nela, há riqueza; ela conhece seu coração, mas não a escassez da vida. É imortal, pois nada sabe da morte. Mas isso os homens não conseguem suportar. O divino deve se tornar como um deles, deve aprender que eles também estão aí e antes que a natureza o expulse de seu paraíso, os homens o ondulam e o arrastam para o campo da maldição, fazendo-o ganhar a vida como eles, com o suor do próprio rosto./ Mas também é belo o tempo do despertar, desde que não nos despertem na hora errada.

A ilustração encontrei no site Quoting: Hiperion na Travessia até Caláuria - Rudolf Lohbauer (1824)

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