Hipérion ou O Eremita na Grécia
Acabei de
ler o tocante romance poético Hipérion ou O Eremita na Grécia (1797), de
Friedrich Hölderlin (1770 - 1843), com tradução de Erlon José Paschoal, numa
edição da Nova Alexandria (2003). A sua narrativa se dá através das cartas que o
nostálgico Hiperion, apaixonado por uma Grécia há muito distante, envia ao seu
amigo Belarmino, que ficou na Alemanha, falando das suas desventuras em terras
gregas e do seu desesperado amor por Diotima. Não sei o quanto gostei. A
inconstância de Hipérion me incomodou..., assim como me incomoda a minha.
Talvez seja puro reflexo. Talvez autodefesa. Talvez pela leitura tardia. Na
década de 1970, ainda estudava Mitologia Grega. Hoje, faço consultas casuais.
Posso estar enganado, mas me parece que esta obra de Hölderlin inspirou Mika
Waltari (1908 – 1979) em O Etrusco.
Excerto: na terceira carta a Belarmino, diz
Hipérion: (...) Como o trabalhador no
sono que o revigora, meu ser inquieto afunda muitas vezes, nos braços do
passado inocente./ Sossego da infância! Sossego celestial! Quantas vezes me
vejo sereno diante de você numa contemplação amorosa, tentando recordá-lo! Mas
só nos restam conceitos daquilo que, um dia, foi ruim e depois remediado; mas
da infância, da inocência não temos quaisquer conceitos./ Por ser ainda uma
criança serena e nada saber de tudo o que nos cerca, não era eu mais do que sou
agora, depois de todas as agruras do coração e de todas as reflexões e embates?/
Sim! A criança é um ser divino enquanto não submerge na cor de camaleão dos
homens./ Ela é inteiramente o que é e, por isso, tão bela?/ A força da lei e do
destino não a toca. Na criança, a liberdade existe sozinha./ Nela, há paz; ela
ainda não se desagregou interiormente. Nela, há riqueza; ela conhece seu coração,
mas não a escassez da vida. É imortal, pois nada sabe da morte. Mas isso os
homens não conseguem suportar. O divino deve se tornar como um deles, deve
aprender que eles também estão aí e antes que a natureza o expulse de seu
paraíso, os homens o ondulam e o arrastam para o campo da maldição, fazendo-o
ganhar a vida como eles, com o suor do próprio rosto./ Mas também é belo o
tempo do despertar, desde que não nos despertem na hora errada.
A ilustração encontrei no site Quoting: Hiperion na Travessia até Caláuria - Rudolf
Lohbauer (1824)
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