domingo, 24 de agosto de 2014

José Craveirinha: Carreira de Gaza

Em 2012, na Semana da Consciência Negra, postei o belíssimo poema Fábula, de José Craveirinha. Conheci a obra deste genial escritor através da Antologia de Autores Africanos: Do Rovuma ao Maputo, organizada por Carlos Pinto Pereira, em 1999, que encontrei por acaso disponibilizada na web. Retorno a ele com a postagem de três pungentes poesias. Ontem foi a Terra de Canaã. Hoje é a Carreira de Gaza. Amanhã é Reza, Maria.


                         

Carreira de Gaza
José Craveirinha

Escusado fazer pontaria.
Chusmas de rajadas acertam sempre.

Povo armado de maternitude e velhice
esgota a lotação das carreiras de Gaza
rumo à saudade de onde saiu.

Objectivo estratégico de maternitude
machibombo da carreira de Gaza
atingido em cheio calcinou.

A mãe que dava o peito ao bebé de três meses
foi removida assim mesmo.


*
Ilustração de Joba Tridente (2014)


José João Craveirinha (1922 - 2003) nasceu em Maputo, Moçambique.  Considerado o maior escritor moçambicano, o primeiro a receber o Prêmio Camões, iniciou-se no jornalismo no Brado Africano e se firmou colaborando com diversos veículos de informação. Craveirinha esteve preso entre 1965 e 1969, pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), na Cela 1, com Malangatana e Rui Nogar. O escritor utilizou vários pseudônimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo e Abílio Cossa. É autor de Xigubo (1964 - com 13 poemas e 1980 – com 21 poemas); Cantico a un dio di Catrame (1966); Karingana ua karingana (1974);  Cela 1 (1980); Izbrannoe (1984); Maria (1988); Babalaze das hienas (1996); Hamina e outros contos (1997); Maria. Vol.2 (1998); Poemas da Prisão (2004); Poemas Eróticos (2004 - edição póstuma organizada por Fátima Mendonça).

Para conhecer um pouco mais da sua obra, sugiro o ensaio José Craveirinha, publicado no Portal Lusofonia.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...